Marcos do Bicentenário
Monumentos e marcos são obras recorrentes a todo o tipo de formação social. Cada grupo tem sua relação histórica retratada através de tais indicadores. Durante a primeira comemoração do bicentenário da cidade houve diversas inaugurações e festejos. Como a festa foi pensada poderíamos até dizer que as novas avenidas abertas poderiam enquadrar-se como grandes marcos históricos para as respectivas comemorações. Isto ficaria mais evidente pelo fato de que em cada inauguração houve a colocação de uma placa alusiva ao fato. Todavia estas não caracterizam em si uma homenagem direta ao ato festivo do bicentenário de 1940.
Entretanto podemos achar ainda hoje na cidade dois marcos que foram inaugurados para homenagem ao bicentenário. A pesquisa não poderia deixar passar em branco tais pontos já que estes se encontram fora do conhecimento da sociedade atual. As respectivas homenagens estão no Parque da Redenção e no Paço dos Açorianos. Um deles foi achado como referência no Correio do Povo e o outro tem sua origem incógnita, sendo citado apenas em um livro de Walter Spalding.
O primeiro deles tem a sua origem detalhada pelo Correio do Povo do dia 09/11/1940, onde aparece uma convocação sobre “inauguração de uma placa de bronze, com as efígies de Jerônimo de Ornellas, fundador da cidade, e do Prefeito Loureiro da Silva, oferecida pelo funcionalismo municipal.” (Correio do Povo de 09/11/1940, p.2). Obs.: Esta peça já foi abordada anteriormente no ArquivoPOA no post "O Falso Bicentenário de Porto Alegre" publicado em 29/07/2009, todavia somente com esse trabalho de pesquisa foi possível achar a sua origem. Tal efígie foi elaborada por Fernando Corona com base em estudos executados por Walter Spalding de como seria a aparência do antigo colonizador. Na inauguração houve um pronunciamento de Spalding e a entrega de duas miniaturas a Loureiro da Silva. Tal homenagem aparece com grande exaltação nas páginas do jornal (Correio do Povo de 10/11/1940, p.6), todavia o marco demonstra uma evidente comemoração política, já que apresenta o prefeito comparado ao papel “mitológico” difundido pelas pesquisas históricas da época sobre Jerônimo de Ornellas. A homenagem pode ser encontrada ainda nos dias atuais no Paço dos Açorianos.
Figura: Efígie comemorativa do bicentenário no Paço Açoriano.
A segunda homenagem está localizada no Parque da Redenção, perto da área fronteiriça ao Viaduto da Avenida João Pessoa. Sua origem é uma grande incógnita, já que não foram achadas referências no Correio do Povo ou na Revista do Globo. Todavia o pesquisador de arte urbana, José Francisco Alves, em seu livro A Escultura Pública de Porto Alegre (2004), apresenta uma pequena referência da obra. Trata-se de uma coluna de estilo jônico chamada de “Coluna Brasileira”, que apresentava em um bronze o mapa da sesmaria de Jerônimo de Ornellas, infelizmente a chapa foi roubada há décadas atrás. Perdida nas redondezas do parque, o monumento seria “(...) conforme idealização do professor Tupi Caldas.” (SPALDING, 1967, p. 250, apud, ALVES, 2004, p. 171).
Figura: Coluna Brasileira em estado de abandono no Parque da Redenção.
A análise desses dois pequenos marcos serve para mostrar como um equívoco histórico pode permanecer na paisagem urbana de uma cidade. No caso da Coluna Brasileira, deve-se apontar a perda do significado de um símbolo, causando a falha na compreensão histórica de pesquisadores e da população em geral com relação ao monumento. A efígie de Jerônimo de Ornellas com Loureiro da Silva aponta para a reflexão de como a política decide quais pessoas deverão ser homenageadas e/ou imortalizadas no imaginário popular, fato este precipitado já que a obra faz parte dos festejos do antigo bicentenário da cidade, onde o prefeito estava em pleno uso de seu cargo.
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