segunda-feira, 15 de março de 2010

O Primeiro Monumento de Porto Alegre

Porto Alegre teve seu primeiro marco comemorativo em um chafariz. Ele era derivado de uma leva de chafarizes instalados pela Cia Hidráulica para oferecer água potável aos habitantes. Foi originalmente instalado na Praça da Matriz em 1866 e a sua homenagem era para o Rio Guaíba, tendo seu projeto atribuído ao arquiteto José Obino.

O chafariz na Praça da Matriz com o Teatro São Pedro ao fundo. Ano e autor não informados.


A já citada empresa implementou diversos chafarizes na cidade, porém, esse do Guaíba foi o terceiro a ser instalado. A questão de ele ser considerado um monumento é que foi o primeiro a fazer uma menção de homenagem. Os outros dois eram meramente decorativos, entretanto, o monumento também tinha peças decorativas pré-fabricadas (originadas da região de Carrara). Somente nas bases das figuras é que notava-se a singularidade das estátuas. Cada uma trazia escrito o nome de cada afluente do Rio Guaíba: Caí, Gravataí, Sinos e Jacuí. Sem contar de uma que representava o próprio homenageado.

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O conjunto era composto por cinco estátuas. Elas eram divididas em duas figuras femininas e outras duas masculinas. Essas ladeavam uma elevada representação masculina da república, que representava o Guaíba. As mulheres tem em suas bases as denominações de Cahy e Sinos, e os homens,Gravatahy e Jacuhy.

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O chafariz ficou até o ano de 1910 na Praça da Matriz. Acabou tendo a sua estrutura demolida para a colocação do atual monumento a Julio de Castilhos. As estátuas foram preservadas e guardadas em depósitos da prefeitura. Em 1923 elas foram vendidas para particulares. Seus donos queriam transformá-las em pó de mármore, porém, após uma campanha de mobilização feita pelo Correio do Povo, elas foram novamente compradas pela prefeitura com a promessa de sua reutilização em logradouro público.

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A promessa não foi atendida e um tempo depois as peças foram novamente vendidas. Elas passaram por diversas mãos, até mesmo foi adquirida pela Casa Aloys, até retornar a prefeitura por volta de 1935. Nesse ano elas foram instaladas na Praça Dom Sebastião, porém, a figura do Guaíba já não estava mais no conjunto. Segundo José Francisco Alves, ela continua nas mãos de particulares até hoje.

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As quatro figuras remanescentes, que constituem os afluentes do Guaíba, passaram por diversas fases de depredação na referida praça. Em 1983 foram removidas para um depósito da prefeitura. Em 1986 elas foram alvos de polêmica na Câmara de Vereadores por causa do seu abandono. Mesmo assim ficaram confinadas por mais 10 anos. Somente em 1996 elas retornaram para a referida Praça Dom Sebastião.

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No retorno das estátuas foi criado um espelho d’água. Possivelmente isso fazia parte de uma retomada da característica original do monumento, com direito ao pedestal da já esquecida estátua do Guaíba. Infelizmente, ela até hoje não foi colocada lá, sendo que, temos um lugar sem água e com um melancólico espaço vazio.

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O primeiro monumento da cidade encontra-se esquecido e totalmente vandalizado (sujo e com partes retiradas). Poucas pessoas que passam diariamente pelas estátuas têm a noção que elas existem desde 1866 e do seu significado. O que originalmente era chamado de “Guaíba e Afluentes” está há anos caracterizado apenas por “afluentes”.

Foto das estátuas com o pedestal do Guaíba vazio.

Nariz depredado, no local a prefeitura colocou cimento para restaurar.






UPDATE:

Recebemos duas fotos do Jorge Luis Stocker Junior (autor do Blog Die Zeit) com a fonte funcionando na atual praça:





Fontes:

ALVES, José Francisco. A Escultura Pública de Porto Alegre – História, Contexto e Significado. Porto Alegre: Artfolio, 2004.

Foto da fonte: http://www.imobmeninodeus.com.br/memoriasdepoa.htm Acessado em 15/03/2010

3 comentários:

Suziley disse...

Muito boa sua postagem Jonas. É muito triste que tais monumentos sejam constantemente vandalizados, pichados. Como é triste perceber que as pessoas não valorizam a sua própria história e riqueza cultural. Parabéns pela postagem. Boa semana, um abraço, :)
Suziley.

Jorge Luis Stocker Jr. disse...

Ótima postagem. Sou muito fã desse monumento e do significado. Não sabia desta história do Guaíba!

Se não estou muito enganado, em 2007 funcionou com água esse monumento. Acho que tenho fotos disto, tenho que conferir.

Muito lamentável o abandono e depredação. E o monumento perde bastante da sua 'força' perdido ali no cercadinho, sem água!

raulzito77@gmail.com disse...

Gostaria de saber o nome do escultor dessas obras. se alguém souber, por favor me avise.