quinta-feira, 15 de julho de 2010

Dissecando o Falso Bicentenário de Porto Alegre - II

As Obras de Loureiro da Silva

O início do século XX caracterizou-se pelo crescimento urbano de Porto Alegre. Grandes obras foram iniciadas para remodelar toda a região central e preparar a cidade para sua modernização. Os administradores municipais iniciaram uma empreitada de remodelação urbana que acabaria apenas na década de 70. Um dos percussores deste movimento foi Otávio Rocha. Em sua gestão (1924-1928) houve toda a abertura de ruas e eliminação dos antigos becos do atual Centro Histórico. Este por sua vez foi visto com bons olhos pela população durante a sua gestão, entretanto diversas construções de valor histórico foram demolidas.

Otávio Rocha acabou falecendo durante o desempenho do cargo, com isso deixou diversas obras de ruas e avenidas incompletas. Couberam a seus sucessores (Alberto Bins e Loureiro da Silva) no governo municipal as respectivas finalizações. O plano original de modernização estava tão marcado como meta de sua gestão que temos em seu mausoléu no Cemitério da Santa Casa de Porto Alegre uma representação das principais obras. Para Doberstein (2002) o túmulo retrata o falecido como “individualidade iluminada que, tal como “o sol de uma nova era”, impulsionou a cidade no rumo de seu progresso e bem-estar” (DOBERSTEIN, 2002, p.191).


Figura : Túmulo de Otávio Rocha com suas obras retratadas.

Outro local em que Otávio Rocha é louvado por suas idéias progressistas para a cidade é na praça que recebeu o seu nome no Centro da cidade. Esta recebeu uma estátua onde o antigo interventor assegurava um mapa da cidade em uma mão e na outra uma caneta. Infelizmente a respectiva obra de arte encontra-se atualmente descaracterizada com o roubo dos respectivos detalhes.

Após o falecimento de Otávio Rocha a prefeitura passa ao comando de Alberto Bins. Ele finaliza a obra dita como mais importante em termos de urbanismo para a zona central da cidade: Viaduto Otávio Rocha. Bins tem seu mandato finalizado em 1937 com o advento do chamado Estado Novo. José Loureiro da Silva acaba assumindo o comando da capital.

Loureiro da Silva assume o cargo e logo dá continuidade ao desenvolvimento urbano começado por Otávio Rocha. Baseada na visão apoteótica atribuída ao antigo administrador, ele investe em mais obras públicas da chamada “modernização”. Assim acaba eliminando construções sobreviventes das épocas anteriores e cria três avenidas que teriam destaques nos festejos do bicentenário: Avenida 10 de Novembro (atual Avenida Salgado Filho), Avenida Protásio Alves e Avenida Farrapos.

O fato de grandes obras viárias e a colocação dos festejos de bicentenário no ano de 1940 acabam encaixando-se na doutrina do Estado Novo. Com isso Loureiro da Silva aparece para a população com um tom heróico. Durante todo o mês de novembro longas reportagens foram publicadas sobre o perfeito, inclusive um artigo da Edição Especial da Revista do Globo (Ano XII, nº 285) com o título: “O Amigo Número Um de Porto Alegre”.

 

As reportagens de página inteira do Correio do Povo acompanhadas de grande cobertura fotográfica do evento, com legendas e textos de tom ufanista, associavam as comemorações do bicentenário às obras urbanas realizadas pelo prefeito Loureiro da Silva. O prefeito aparece em várias fotos ao lado do Interventor Federal Coronel Cordeiro de Farias e do Presidente Getúlio Vargas nas inaugurações das avenidas abertas na cidade. (MONTEIRO, 2002, p.20).



Lista geral de referências.

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